Após passar 4 horas sem me mexer ou beber água, tomei o primeiro copo e vieram falar comigo sobre o estado do Dudu.
Fiz um esforço tremendo para me levantar da cama (lembrando que a cesariana corta umas 8 camadas do nosso corpo e depois tudo é suturado), tomar banho e ir na cadeira de rodas até a unidade neonatal da Maternidade.Foi uma caminhada dolorosa física e psicologicamente ir até ao bercinho onde estava meu filho, respirando em um C-PAP e tomando leite através de uma sonda orogástrica.
Fiz um esforço tremendo para me levantar da cama (lembrando que a cesariana corta umas 8 camadas do nosso corpo e depois tudo é suturado), tomar banho e ir na cadeira de rodas até a unidade neonatal da Maternidade.Foi uma caminhada dolorosa física e psicologicamente ir até ao bercinho onde estava meu filho, respirando em um C-PAP e tomando leite através de uma sonda orogástrica.
Um C-PAP neonatal funciona mais ou menos assim. Tirei a imagem desse site aqui |
Sabem a culpa materna? Então, imaginem ela aumentando cada vez que vinha um pediatra ou enfermeiro me lembrar de que eu era diabética e que filhos de mães diabéticas apresentavam a síndrome de angústia respiratória que o Dudu tinha. A culpa não diminuía, muito menos quando vinha uma enfermeira me falar do aleitamento materno. Eu, que sempre defendi amamentar em livre demanda e o desmame tardio, me vi sem leite. Sem leite e sem motivação pra tirar leite. Mais um plano por água abaixo e mais uma coisa da qual eu me sentiria culpada.
Para melhorar, uma pessoa bem próxima à família se aproveitou do fato de eu estar operada numa cama para dizer que todo aquele sofrimento era oriundo do fato do noivorido e eu estarmos "vivendo em blasfêmia" (sic). Imagina só meu bom-humor, né. Só consegui ouvir, calada, com medo de magoar.
Chegou a um ponto que eu não queria mais ver o Dudu, para não me inundar de culpa. Foi preciso minha mãe dar um chega pra lá em uma profissional e contar que eu não precisava ouvir toda hora aquilo, porque na minha cabeça eu estava esquematizando que a culpa era toda minha, não importasse o fato de que infelizmente acontecem essas intercorrências.
E haja intercorrência. Enquanto eu ainda estava internada, Dudu teve uma sepse precoce, precisando ser entubado e ir para a UTI, no isolamento. Tive alta do hospital, fui para casa e ele ainda lá, sendo cuidado pelos anjos carnais e espirituais.
Era basicamente assim que Dudu estava entubado. Foto tirada desse site aqui |
Não possuo fotos do Dudu entubado porque foi um período extremamente doloroso. Ir para casa, então, foi muito difícil. Acho que todas as mães de UTI sabem a dor de ver todo mundo saindo com seu filho no colo e você ir para a casa de braços vazios.
Assim que chego em casa, me deparo com um bilhete que minha mãe fez e colocou na porta do quarto. Chorei assim que li.
Assim que chego em casa, me deparo com um bilhete que minha mãe fez e colocou na porta do quarto. Chorei assim que li.
Bilhete que minha mãe fez e colocou na porta do meu quarto no dia em que recebi alta do hospital. Mantenho ele pregado na porta até hoje |
No dia 21 de fevereiro, 8 dias após o nascimento do meu guerreirinho, fui à UTI e ele estava apenas no capacete de oxigênio. Foi quando, após a permissão das enfermeiras, pude pegar meu filho no colo pela primeira vez.Comecei a crer que ele realmente melhoraria.
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Primeira vez no colo, nós dois nesse amor <3 |
Tentei até dar de mamar a ele, mas ele não pegou o peito e chorava muito, um choro rouco de quem passou uma semana entubado. No domingo, 22, voltando de casa para a Maternidade, encontro a pediatra que cuidou do Dudu quando ele nasceu e ela estava com cara de preocupação. Pergunto o que ocorreu e ela diz que, enquanto eu tinha ido em casa tomar banho e tirar os pontos, Dudu teve uma convulsão e uma parada respiratória. Da UCI, ele voltou para a UTI, o tubo e mais medicação. Além da sonda orogástrica, ele tinha outra na uretra, para medir com precisão o volume de urina que ele excretava.
Ah, as medicações....Se eu já era bem ligada à Medicina, aprendi ainda mais sobre os esquemas, as bombas de infusão, os anticonvulsivos, antibióticos e sedativos aos quais submetiam meu filho.A rotina de, a cada três horas, pegar um êmbolo de seringa e a fórmula para administrar o leite.
Na UTI eu dava leite quando ia, trocava fralda (pesava-as antes de colocar e depois, para subtrair e ter o peso do cocô dele anotadinho), cantava para ele....
Gostava muito de conversar com os fisioterapeutas, que me acalmavam quando o nível de saturação dele caía. Houve uma vez em que ele se extubou acidentalmente e o fisioterapeuta teve de reanimá-lo na minha frente e na do noivorido... Mais um susto no qual tive de manter a aparência de controle e depois desabei no carro, a caminho de casa.
Mantive certos rituais obsessivos durante a estadia do Dudu na UTI-UCI. Se eu estivesse em casa, lia relatos de sucesso de bebês prematuros, principalmente do site Prematuridade.com. Após o banho, eu tinha que passar o desodorante 4 vezes em cada braço, borrifar perfume 5 vezes e, quando chegasse na UTI, tinha de abrir a torneira, apertar o dispenser de sabonete 2 vezes, lavar as mãos, puxar o papel-toalha 3 vezes, fechar a torneira e apertar o dispenser de álcool em gel 2 vezes. Esses rituais foram necessários para que eu não perdesse a minha calma e eu acreditava que, fazendo isso, evitaria que mais coisas ruins acontecessem com meu filho.
No final de fevereiro, após uns 10 dias na UTI e uns 5 de tubo,cheguei lá e vi meu Dudu num C-PAP. Todo dia, a partir daí, me despedia dele dizendo "Mamãe vai, mas deixa o coração dela aqui, meu amor. Não deixe de nos surpreender pro bem. Vamos combinar de você continuar no C-PAP ou , melhor ainda, em um capacete de oxigênio!". O noivorido ia pela manhã e eu pela tarde e só saía de noite. Eu procurava demorar ao máximo, pois não sabia quando seria a próxima vez que veria o Dudu.
Desmame de oxigênio sendo feito aos poucos (e após muita oração a São Jorge, Nossa Senhora e Dr. Bezerra de Menezes), Dudu volta à UCI, no capacete de oxigênio. Lembro da enfermeira que fez a transferência dos leitos dizer "não aceitamos devolução, hein", comemorando comigo. Enquanto isso, minha recuperação da cirurgia melhorava a cada dia, permitindo que eu ficasse mais tempo com ele, dando colo e cuidando, quase como mãe e filho normais. A cada colo mais prolongado, menor a necessidade do tubinho de oxigênio acoplado ao capacete.
Meu amorzinho no seu capacete, com bem pouco oxigênio porque os pulmões estavam tinindo <3 |
Na manhã do dia 2 de março, decidi ir à Maternidade bem cedo. Minha mãe e meu noivorido chiaram, mas eu estava decidida a ficar o dia todo com o nenei, ter um gostinho da maternidade.
Algo me dizia.
Quando foi umas onze da manhã, ouço a pediatra de plantão perguntar por mim.
-Mãezinha, liga pro seu marido lhe buscar daqui a pouco que hoje mesmo o Eduardo vai receber alta da UCI e vocês vão para a Enfermaria Coruja.
A felicidade era tanta que nem me descabelei muito quando o noivorido demorou porque era época da enchente história do Rio Acre e havia apenas uma ponte trafegando todos os automóveis da cidade.
Tomei banho, arrumei as malas -minhas e do Dudu-, com aquela música lymdra do Pablo na cabeça, hahahaha.
E, após 17 longos dias, foi cantando "estou indo embora/ a mala já está lá fora" que Dudu e eu demos tchau às tias da UTI-UCI e fomos para a Enfermaria Coruja, o estágio que faltava para a tão sonhada alta hospitalar.
Continua...
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